“O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry
- Não soube compreender coisa alguma! Deveria tê-la julgado por seus atos, não pelas palavras. Ela exalava perfume e me alegrava... Não podia jamais tê-la abandonado. Deveria ter percebido sua ternura por trás daquelas tolas mentiras. As flores são tão contraditórias! Mas eu era jovem demais para amá-la. (p. 31)
(...)
- É claro que eu te amo – disse-lhe a flor. – Foi minha culpa não perceberes isso. Mas não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Tenta ser feliz... Larga essa redoma, não preciso mais dela. (p. 34)
Primeiro planeta é o rei; o segundo, o vaidoso, que só ouve elogios e só deseja ser admirado em um planeta em que ele é também solitário; o terceiro planeta é habitado por um bêbado, que bebe para esquecer a vergonha de beber; quarto planeta, o empresário, sujeito sério que não se preocupa com futilidade. Ele não tem tempo para passear, mas tem tempo para contar estrelas, essas coisinhas douradas que fazem sonhar os preguiçosos. Ele não tem tempo para divagações, é sujeito sério que gosta de exatidão. Ele possui as estrelas, mas o empresário não é útil às estrelas (p. 47); o quinto planeta, o menor de todos, é do acendedor, que segue o regulamento de acender e de apagar o lampião, além de ser o único que se ocupa de outra coisa que não seja ele próprio; o sexto planeta é de um velho geógrafo, que desconhece o seu próprio planeta, mas é geógrafo, e o geógrafo nunca anota flores porque elas são efêmeras, ou seja, “ameaçada de desaparecer em breve”; o sétimo planeta, a Terra.
Na Terra, a raposa afirma que cativar é “criar laços” (p. 66). Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti único no mundo.
- Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
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A ficção ou o literário
1. “Aula”, de Roland Barthes
P.12: “(...) Não vemos o poder que reside na língua, porque esquecemos que toda língua é uma classificação, e que toda classificação é opressiva”, isto é, aperta, comprime, retém, faz parar.
P. 13: “(...), sou obrigado a escolher sempre entre o masculino e o feminino, o neutro e o complexo me são proibidos (...). (...), a língua implica uma relação fatal de alienação. Falar, e com maior razão discorrer, não é comunicar, como se repete com demasiada freqüência, é sujeitar: (...)”.
P. 16: “Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, (...), eu a chamo, quanto a mim: literatura.”
P.17: “(...) é no interior da língua que a língua deve ser combatida, desviada: não pela mensagem de que ela é o instrumento, mas pelo jogo das palavras de que ela é o teatro.” A literatura, segundo Roland Barthes, encena a linguagem, dramatiza-a.
P.35: “(...) O Texto contém nele a força de fugir infinitamente da palavra gregária (aquela que se agrega), (...) ele empurra para outro lugar, um lugar inclassificado, atópico, por assim dizer, longe dos topoi da cultura politizada, (...).”
2. “A Experiência Interior”, de Georges Bataille.
Parte I – Crítica da servidão dogmática (e do misticismo)
P. 11: Entendo por experiência interior aquilo que geralmente chamam de experiência mística: os estados de êxtase, de arrebatamento, pelo menos de emoção meditada (...).
3. “De espaço literário”, de Maurice Blanchot.
P. 34: “Linguagem ordinária
P. 35: “A fala em estado bruto “relaciona-se com a realidade das coisas”. “Narrar, ensinar, até descrever”, dá-nos as coisas na própria presença delas, “representa-as”. A fala essencial distancia-as, fá-las desaparecer; ela é sempre alusiva, sugestiva, evocativa.”
P. 35: “Na fala bruta ou imediata, a linguagem cala-se como linguagem, mas nela os seres falam e, em consequência do uso que é o seu destino, porque serve, em primeiro lugar, para nos relacionarmos com os objetos, porque é uma ferramenta num mundo de ferramentas onde o que fala é a utilidade, o valor de uso, nela os seres falam como valores, assumem a aparência estável de objetos existentes um por um e que se atribuem a certeza do imutável.”
4. “Deleuze, a arte e a filosofia”, de Roberto Machado
P. 206: “(...) o valor da linguagem literária – que tem como material as palavras e suas relações – diz respeito ao novo, ao inesperado, à mutação, à invenção.” Dessa forma, a literatura desestabiliza porque os belos livros são escritos em “língua estrangeira”.
P. 207: “‘Cada escritor está obrigado a criar a sua língua, como cada violinista está obrigado a criar o seu som’.” A literatura foge ao sistema dominante.
P. 208: Tipos particulares e tipos originais. Os particulares obedecem às leis gerais da sociedade e, em suas frases, obedecem às leis gerais de sua língua. Os originais revelam as imperfeições das leis, a mediocridade das criaturas particulares. A literatura resiste à servidão, à infâmia, ao presente. A literatura cria linhas de fuga.
“O Pequeno Príncipe”, guardas as devidas comparações com literaturas que desestabilizam, narra a estória de um saber que escapa do senso comum, do reconhecimento, criando novas possibilidades, novas formas de existência [interior].

